Projeto 15 dias - São Thomé das Letras - Parte 15

 Capítulo 14 – Arrumando a mala

    O dia se inicia com muito frio e muitas nuvens no céu existindo uma possibilidade concreta de chuva , como à noite não consegui ter um sono reparador, (apenas breves cochilos) isso provavelmente impactou minha disposição e assim sendo meu objetivo concreto hoje será preparar tudo para o meu retorno ao meu ponto de partida, (amanhã) que devido ao horário deverá acontecer junto com os primeiros sinais do sol no horizonte. Se não ocorrer a chuva , talvez seja possível uma breve caminhada pela cidade.

 Após as obrigações matinais (café da manhã e escrever) , saí para comprar pães e descartar em local apropriado o lixo que se acumulava quando no meu trajeto de retorno decidi parar em uma das barracas presentes ao redor da praça central (são erguidas sempre à partir da sexta-feira e permanecendo até o domingo) que vendem pedras , cristais e todo tipo de artesanato. A barraca que “escolhi” estava posicionada justamente na minha rota de passagem nas inúmeras vezes que fui ao supermercado , me chamou atenção os fatos: 1 - do proprietário tocar violão e tocar muito bem (ao meu entender) , 2- era a única barraca que trabalhava apenas com pedras e metais , 3- era conduzida por uma família onde as crianças ficavam livres a se divertir na praça e o casal se revezava na atenção aos clientes e atenção às crianças.


Escultura em pedra presente na praça central

     Ao parar observei o trabalho bonito  e meti-culoso que faziam de forma artesanal com pedras e metais (havia a disposição também pedras polidas) , nos apresentamos e o casal se chamava: Mateus e Waleska ● , ele de descen-dência alemã e ela de descendência peruana , elogiei as habilidades com violão e a forma de tocar (lenta e ritmada) bem como o trabalho deles com as pedras que foi o que inicialmente chamou minha atenção pois não me tocava os inúmeros bonecos e bonecas em forma de duendes, bruxas , alienígenas e outros arquétipos explorados em trabalhos artesanais nas outras barracas , que fazem bastante sucesso com turistas mas realmente não ressoam como algo a atrair minha atenção . Olhei alguns itens expostos para venda , perguntei sobre as pedras , conversamos um pouco ( eu e Mateus , Waleska ● estava
produzindo uma nova peça e atendendo clientes) sobre as pedras , sobre as energias mais sutis, sobre o que me levou e o levou até São Thomé das Letras estava prestes a me despedir quando em um dos meus ímpetos de subversão ao comum sugeri uma modificação na relação de consumo onde eu iria entregar um valor (acho que maior do que o cobrado pelos produtos à venda) e eles , em comum acordo , iriam ter a sensibilidade de me dar o produto que achassem que tinha a ver comigo , independente de ser de um valor mais baixo (sem troco) , também os deixei a vontade para se achassem que nada ali tinha relação comigo , o dinheiro entregue seria minha forma de agradecer a gentileza e conversa agradável que tivemos.
    Após pensarem um pouco , concordaram no objeto que me seria entregue , me foi dito que
era uma “chacana” eu realmente não sabia o que significava o termo e quando vi o objeto me
encantei com a beleza antes da explicação metafísica. Se tratava de uma pedra verde , opaca ,trabalhada com ângulos retos dando a impressão de quadrados sobrepostos ou uma escadaria voltada para todos os lados bem como acima e abaixo , com um círculo no centro suportada por um tipo de linha especial trançada e tratada com cera (talvez para evitar a umidade) que no seu
início tinha uma pequena pedra esférica em tons de amarelo e marrom (pedra denominada olho de tigre) e tendo no final (fecho) duas pedras verdes quase translúcidas com forma esférica (quartzo verde). Com o objeto (que fizeram o ajuste na hora , queimando as extremidades do“cordão”, veio a explicação: de acordo com Mateus ● a pedra central era Jade , coletada em uma escavação no Peru (então se trata de uma pedra bem antiga) e só recentemente trabalhada para ter a forma da chacana e polida.
 Mas afinal o que era uma “chacana ou chakana” ? de acordo com eles é um símbolo sagrado na cultura dos povos que habitavam a cordilheira dos andes tendo várias crenças e
representatividades sendo as mais comuns o ciclo lunar (os degraus esculpidos) e a finalização de um ciclo. Me prontifiquei a estudar a respeito daquele nobre presente que me foi oferecido e assim nos despedimos pois eu tinha uma mala para organizar e almoço para fazer. Antes de entrar no apartamento já me ocorreu a ideia de oferecer os produtos que ficariam no apartamento e que iam desde sabão em pó (para lavar as roupas) até chocolates que eram minha fonte de calorias instantânea nos dias frios. Procurei inicialmente focar minha atenção no almoço e depois em escrever as experiências vividas naquela manhã. Depois do almoço , como prometido , fui estudar com auxílio da Internet a respeito da “chacana ou chakana”. De acordo com minhas pesquisas a grafia correta é chakana , também conhecida como cruz andina ou escada andina e real-mente tem várias associações relativas a credos e representatividade , uma delas é a união dos elementos: terra , ar , fogo e água , outra fala da união das 4 estações do ano, de acordo com alguns seria a união do céu e terra (com suas respectivas polaridades) , para outros é a representação estelar da constelação do cru-zeiro do sul , além da representatividade
anteriormente citada de ciclo lunar e conclusão de uma jornada..
    É um símbolo sagrado na cultura Inca e pré-incaica tendo o início de seu registro datado de 500 anos antes de Cristo para alguns enquanto outros pesquisadores relatam achados em
escavações de um templo antigo com representações de chakanas com data estimada de mais de 4.000 anos atrás , sendo comumente encontrada no território hoje pertencente a Bolívia e Peru , com registros ao longo das margens do lago Titicaca (Peru/Bolivia) , para alguns pesquisadores seu registro abrange também o atual território do México.

Colar recebido na barraca de artesanato da praça central de São Thomé
 
   No fim da tarde fui novamente a barraca do Mateus e Waleska ● , apenas ela estava ,
(provavelmente ele estava cuidando das crianças) ofereci o que tinha no apartamento , expliquei que partiria na manhã seguinte , e com a aprovação dela retornei ao apartamento e trouxe os mais diversos itens:  de limpeza à comida. Ela agradeceu em nome da família e eu me despedi em definitivo pois meu horário de saída amanhã será antes do sol aparecer no horizonte. Por este motivo , associado a superlotação da cidade devido a festa da colheita , decidi não sair à noite e se possível dormir cedo para minha “peregrinação” de retorno ser o menos desgastante possível.
   
☆ Observação importante: Os fatos mencionados neste capítulo realmente ocorreram porém
o nome real das pessoas envolvidas foi substituído por nomes fictícios (Mateus e Waleska ●)
para preservar o anonimato e possíveis constrangimentos .

Playlist do capítulo 14:

Samuel Rosa e Juliano Alvarenga : ○ Vídeo - Live Samuel Rosa
canal no Youtube




Blank sheet of paper (15 days)
Página em branco  (15 dias)
Acrílico - 2023



Página em branco 

   Rocha erguida de um fundo azul,  passo a passo

    Casa de Santo, pranto enxugado por nuvens que descem para ungir os açoites 

    Fartura à mostra em mesa alta com rendas trançadas por mãos suadas e hábeis 

    Ladeira misericordiosa , bancos necessários em praça pensada e atada

    Altar erguido em buraco,  atalho fechado aos olhos dispersos 

    Versos verdes expostos aos ventos recebem o lume de roxa candeia que anda a esmo

    Idas e vindas no barro,  enxadas e graxa abrindo cafezais que brotam um vermelho quase sanguíneo 

   Neblina permeia mentes ávidas por ações conflituosas, placas solares em ebulição 

     Erva altiva passeia por mãos trêmulas,  abraços, afeição,  não existe aqui contramão 

    Estabelecimentos lavados,  brilham com a poeira da mineração 

    Cabelos ao vento,  luzes se jogam, pássaros em alvoroço,  aplausos dos céus,  colheitas em escorpião 

     Noite estrelada, polícia que passa, forno à  lenha,  caldos, miscigenação 

     Pinga e laranjas em profusão,  toque de sinos, convocação 

     Pálido cansaço,  susto, corpo em restauração,  proposta aceita, conclusão 


Gustavo H.F. de Sousa - Projeto 15 dias

 (2023-2024)


    
   

   

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