Projeto 15 dias - São Thomé das Letras - Parte 16

 Capítulo 15 – O retorno

 

  Ontem antes de deitar , coloquei o alarme para tocar às 4 horas do dia subsequente e foi completamente desnecessário pois ao longo da noite (que não consegui dormir) eu checava o horário quase em intervalos de 1 hora. As 4 da manhã eu já estava de pé preparando o café da manhã e separando o lixo para descartar antes de sair.

    O dia já estava claro quando às 6:15 eu peguei minha mala , mochila e lixo a ser descartado em local apropriado e me dirigi a rodoviária de São Thomé das Letras , no caminho visualizei uma situação digna de evento com grande aglomeração de pessoas: copos , latas e lixo pelas ruas estreitas , odor de cerveja e urina bem presentes e algumas pessoas ainda perambulando pelas ruas e tentando entrar em suas casas e quartos de pousadas , algumas nitidamente sob efeito de substâncias que alteram a consciência. Chegando na rodoviária pude constatar muita gente a espera do ônibus para a rodoviária de Três Corações. Algumas pessoas ali presentes pareciam ter vindo para o show e estavam esperando justamente o primeiro ônibus do dia para o retorno, sentado em um dos bancos disponíveis olhei para o declive que unia a rua pavimentada com os blocos de pedra e o piso da rodoviária , também de pedra e vi aquela junção tremendo por alguns minutos (uns 5 minutos) o curioso é que eu olhava para outro ponto e visualizava tudo normal , voltava a atenção para aquele ponto específico e via o “tremor”. Obviamente não houve tremor nenhum no corpo ou estruturas físicas e em condições normais eu ficaria um tempo refletindo se aquela situação era fruto de uma noite sem dormir ou algo referente a energia do lugar. Mas meu pensamento era: será que vou conseguir embarcar no ônibus? Com tanta gente ali e a cada momento chegando mais eu comecei a contar quantas pessoas estavam esperando e imaginar quantas poltronas haviam em um ônibus.

 Depois de um certo tempo o ônibus chegou e antes sequer do motorista abrir a porta , se formou um tumulto com aglomeração das pessoas na frente da porta. Como eu estava com mala para ser despachada e colocada no bagageiro do ônibus em nada adiantava eu me aproximar ou fazer parte daquele tumulto para entrar. Levantei do banco e fiquei a espera do cobrador para despachar e acondicionar a bagagem relativamente afastado do tumulto. O cobrador começou a colocar para dentro do ônibus as pessoas ali aglomeradas e já com todos sentados e alguns já de pé , voltou sua atenção a mim e outra pessoa que pacientemente esperávamos para o despacho. 

    A cobrança da passagem seria feita no trajeto , como na chegada, o ônibus faria uma parada na rodoviária da cidadezinha de São Bento do Abade e depois seguiria rumo ao destino final. Faz-se necessário lembrar a(o) leitor(a) que durante todo o trajeto se alguém solicitar a parada para descer ou subir seria de pronto atendido mesmo que fosse no meio do “mato”. 

    Partimos com todas as poltronas ocupadas e 8 pessoas de pé sendo eu uma dessas , muitas paradas aconteceram em meio a entrada de fazendas , trilhas de barro e até onde não se via nada além de vegetação (no meio do mato) , graças a Deus a quantidade de pessoas que subiam era menor do que as que desciam do ônibus e assim chegamos à rodoviária de Três Corações sem super lotação porém com quase uma hora de atraso. O próximo trajeto (o mais longo) , até a rodoviária de Belo Horizonte foi comprado com antecedência , iniciou-se sem atrasos e justamente na parada para o almoço em um posto de gasolina foi informado pelo motorista que ficaríamos ali um tempo para prestar auxílio à um ônibus que estava chegando com problemas mecânicos e iria para o mesmo destino. Esperamos por mais de duas horas pois teve o tempo da chegada do ônibus e o tempo para seus passageiros almoçarem , infelizmente as poltronas disponíveis no “nosso” ônibus não foram suficientes para acomodar todos do ônibus com problemas e em meio a revolta dos que permaneceram ali no posto a esperar outra condução ,partimos.

    Chegamos na rodoviária de Belo Horizonte às 18:40 , e eu assim que pude me dirigi ao local apropriado para comer algo pois a rodoviária estava lotada , sendo inclusive difícil encontrar cadeira disponível para comer sentado , após comer e ir ao banheiro me dirigi ao balcão da empresa que faz o trajeto até o aeroporto. Comprei a passagem e a espera foi de pouco mais de 10 minutos para o início do último trajeto de ônibus , já era noite e tudo ocorreu dentro do cronograma , ao chegar no aeroporto eu ainda estava com fome então procurei algo para comer e mesmo faltando 2 horas para o embarque fiz o check in e entrei na área restrita aos passageiros julgando poder ter um maior conforto e tranquilidade o que foi um equívoco de minha parte , muitos e muitos passageiros a espera dos voos , não sei se por atrasos ou por ser um Domingo tinha pessoas sentadas até no chão , tive a “sorte” de encontrar uma cadeira próxima ao meu portão de embarque e ali fiquei até a chamada para o embarque. O voo estava lotado e dentro do avião ficamos pelo menos 1 hora esperando , sem motivo aparente ou explicação e quando enfim decolamos , tudo transcorreu dentro da normalidade.

 Cheguei em Recife já passando das 3 horas do dia 21/8/23 (uma segunda-feira) e extremamente cansado por estar sem dormir a mais de 24 horas eu por praticidade peguei um taxi e pude perceber o porquê dos taxistas não suportarem o Uber , paguei pelo mesmo trajeto da ida(em um Uber) 3 vezes mais por estar em um taxi. Ao chegar foi a sequência de banho e cama para me recompor da “epopeia “ desse retorno. No dia subsequente menos cansado a sensação era de dever cumprido , projeto concluído no que tinha a ser acrescentado porém outros desafios me esperavam como as revisões finais que para cada capítulo foram no mínimo 4 as traduções e revisões das traduções , as pinturas das minhas representações gráficas e como ápice dos desafios de postar este projeto , tive um problema no aparelho celular ( onde todas as fotos estão armazenadas) que me impossibilitou de usar por 1 mês onde eu cheguei a cogitar a possibilidade de fazer da forma tradicional , sem imagens e só com o texto pois a parte escrita foi feita de forma manual em caderno.

 Agradeço a todos que de forma direta ou indireta colaboraram para a execução do projeto , agradeço a paciência do leitor que acompanhou a postagem dos capítulos e em paralelo as postagens do projeto: “As belezas de São Thomé em preto e branco “ (que ainda continua)

 Nos encontraremos em breve , se Deus permitir , em uma outra aventura abraço fraterno:

Gustavo ; )



   Não há representação mais válida de tudo que vivenciei em São Thomé do que meus sapatos quase destruídos pela intensidade de tudo , cada marca nele representa outras tantas impregnadas à alma , definitivamente minha despedida do projeto / da cidade tem “som , sabor e odor”, além  de uma bagagem repleta de tudo que não impressiona os sentidos mas é tão sólido  como as ruas por onde transitei , até breve e obrigado , São Thomé das Letras ! ; )



Trabalho concluído  - Acrílico  - 2024


Conclusão 

    Olhos atentos me seguem e se perdem pois nem mesmo eu sei para onde vou

    A luz que pulsa em ritmo cardíaco me convida a seguir adiante e despido de limitações verbais,  eu vou

    Alicerces puros e límpidos, como a água que jorra de uma gruta, secretamente guardada como joia, se revela

    Sabedoria de tudo que é perene encontra, enfim, moradia apropriada à amplitude de sua essência 

    A cidade festeja em luz e som , do espaço sagrado de minha introspecção , me curvo para receber tudo que é subliminar e atemporal 

    Cada pelo em meu corpo dança ao vento que conduz minha chama até o coração da terra,  ventre sublime, gerador de ciclos

    Relâmpagos sinalizam o caminho e ele é mais belo que todos os sonhos possíveis 

    Meu olhar passeia por tudo e todos,  minha gratidão não encontra meios de expressão além da vastidão de um primordial silêncio 


Gustavo H.F. de Sousa - Projeto 15 dias

(2023-2024)


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