Projeto 15 dias - São Thomé das Letras - Parte 10

 Capítulo 9 – No Reino das águas correntes

    Despertei por volta de 1 da manhã , vi um céu repleto de nuvens , retornei para cama para tentar dormir , voltando a despertar algumas horas depois fiquei na cama até ver algum sinal de luminosidade no céu (por volta das 6:30 horas) , após o café da manhã e equipado com o que tinha para me proteger do frio (jaqueta , gorro , luvas) , saí rumo a toca do leão , outro famoso ponto turístico de São Thomé , quando cheguei lá , ví um casal saindo , imagino que ali estavam para esperar / fotografar o nascer do sol que já se mostrava completamente acima da linha do horizonte. Após várias fotos na parte baixa da toca que na verdade me parecia uma gruta com entrada bem estreita , decidi subir no seu teto , com um pouco de dificuldade e de forma cautelosa em 10 minutos eu estava no topo fazendo fotos e procurando um lugar para descansar.

Arredores da toca do leão no início da manhã

     Fotografei de todos os ângulos e feitos os devidos registros , decidi tentar meditar ali porém sem sucesso pois com o vento que não era constante mas quanto chegava era com vigor me dava a sensação de estar me movimentando mesmo sentado (de olhos fechados). Com esta situação adversa desisti da meditação e me coloquei a contemplar a paisagem fantástica daquele ponto

Registro da rocha que faz parte do topo/teto da toca do leão

    A descida que eu imaginava ser mais difícil , de fato foi mais fácil que a subida porém a tensão e a descarga de adrenalina estavam bem presentes devido a altura , minha inexperiência na escalada de rochas e o vento forte (intermitente) , como fator potencializador de tensão , durante meu momento no topo da rocha a bateria do celular acabou então se algum acidente acontecesse eu não teria como me comunicar e só relembrando ao leitor(a) , eu estava sozinho.

  

Placa com informações a respeito da toca do leão

Registro da paisagem no topo/teto da toca do leão

    Cheguei no solo melado de barro na jaqueta e bermuda mas graças a Deus , íntegro. Retornei ao apartamento e após banho e troca de roupas , fui ao supermercado para comprar o que se fazia necessário e na volta , coletei informações a respeito dos passeios para cachoeiras com pessoas no entorno da praça que fazem transporte de pessoas com roteiros diversos. Voltei ao apartamento e a dúvida que me atormentava era: será que hoje seria adequado ir às cachoeiras? Para situar o leitor(a) , era perto das 12 horas , o céu com muita nebulosidade e fazia 19°C , com vento moderado. Me dediquei a fazer o almoço e quando estava praticamente tudo pronto para almoçar , senti que independente de qualquer coisa este seria o momento certo para pelo menos tentar ir às cachoeiras. Era por volta das 13 horas quando eu coloquei em uma mochila roupas , toalha , água e comida , a temperatura já estava em 21°C e o céu com menos nebulosidade eventualmente com o sol aparecendo. Fui para a praça porém não consegui definir minha ida com ninguém por lá , decidi ligar para uma pessoa que peguei o telefone em uma das idas ao supermercado. Liguei e em menos de 5 minutos acertamos o valor e destino: em minutos (tempo que ele chegaria a praça) estaríamos indo ao complexo de cachoeiras da garganta do diabo. Ao chegar lá, paguei uma taxa de entrada e o condutor do veículo retornaria à cidade e quando eu desejasse entraria em contato (telefone) e ele retornaria para me pegar no complexo de cachoeiras (relativamente bem estruturado) havia 3 locais distintos com quedas de água (de acordo com a funcionária) que de fato são 2 quedas de água e um desnível que proporciona uma pequena queda de água com altura menor que a de um chuveiro. Iniciei minha exploração do lugar pela que ficava no meio , entre a mais alta e a pequena. Escolhi essa porque queria capturar muitas fotos e lá não havia ninguém

Caminho de acesso à “gargantinha” cachoeira intermediária do complexo

     O caminho de acesso tinha muitas pedras de diversos tamanhos margeados por densa vegetação , porém a grande dificuldade que tive nesse trajeto foi transitar pelas pedras em contato com a água , as pedras em contato com a água ficam quase tão escorregadias como sabão e graças a Deus depois de “escapar de um tombo em cima das pedras eu decidi que na medida do possível pisaria nas pedras secas (fica minha dica aos que querem se divertir por lá) , faltando alguns metros para chegar à queda de água eu vi um aviso , já desgastado pelo tempo o qual relatava perigo no poço que recebe a queda de água devido a profundidade (aproximadamente 2 metros). Aquilo realmente me intimidou pois eu estava sozinho naquele lugar e as pedras estavam acima é abaixo da superfície da água , sendo assim prender o pé em um mergulho no local com essa profundidade era um risco que eu realmente não estava disposto a correr. Fiquei em um lugar a poucos metros da cachoeira com uma profundidade da água indo até minha cintura (aproximadamente 1 metro) e com fundo de cascalho. Ainda assim um mergulho era um desafio por dois fatores: a vegetação do entorno podia facilmente ter algum animal peçonhento e a temperatura da água (estava muito gelada).

Aviso de cuidado devido a profundidade do poço que recebe a água da “gargantinha “

Vista da cachoeira (gargantinha) do local onde eu estava

    O fato de ter vindo de tão longe e ter esperado tanto para estar ali foi um grande motivador a encarar o primeiro mergulho e depois dele vieram vários pois uma vez completamente dentro da água gelada o corpo minimiza aquele impacto inicial. Curti bastante o “poço “ onde fiquei pois tinha a visão da cachoeira sem os riscos da profundidade extrema. O retorno ao caminho de acesso às cachoeiras foi mais rápido e seguro pois eu procurava sempre transitar sobre as pedras secas e assim sendo ao chegar decidi continuar descendo e ir ao encontro da terceira cachoeira que tem uma pequena queda de água e se chamava poço dos namorados.

    Essa realmente me encantou porque parecia uma jacuzzi , tinha dois níveis de pedra abaixo da água em forma circular , eu fui devagar me aproximando sentado até o local de queda da água onde fiquei recebendo aquele turbilhão nas costas e ombros , foi a hidromassagem mais perfeita que já tive até hoje , a temperatura da água era maior o que também dava um conforto. Não fosse o horário eu ficaria tranquilamente ali por mais de hora ou melhor dizendo , eu perderia todas as noções de horário ali com todo prazer.

Cachoeira denominada poço dos namorados

    Mas tinha a outra cachoeira que queria conhecer , tinha os registros fotográficos que faziam parte de minhas obrigações de compromisso com o projeto e assim desfrutei da melhor e mais relaxante massagem por um período de aproximadamente 20 minutos , fiz várias fotos e comecei a subida em direção a primeira cachoeira que era a garganta do diabo.

    Chegando ao caminho de acesso , vi que parecia muito com o da “gargantinha”, muitas pedras de todos os tamanhos e logicamente eu priorizava sempre as pedras secas praticando meu aprendizado na “gargantinha”. A diferença principal (além obviamente da altura da queda de água) estava em uma área aberta bem ampla com pedras menores , ao chegar próximo da cachoeira , onde era abundante os registros de pedras empilhadas em forma de pirâmide , fiz vários registros fotográficos.

Chegando bem perto da queda de água percebi que o acesso era muito mais fácil e não envolvia os riscos da “gargantinha “ pois não havia poço no local da queda de água , apenas um desnível formando um acúmulo de água de poucos centímetros sobre um fundo de cascalho e pequenas pedras.

Pedras empilhadas em forma de pirâmide próximo a “garganta do diabo “

     A cachoeira tem uma queda de 30 metros de altura , acontece em meio a 2 paredes de rocha cobertas por musgo. Devido a altura da queda de água há um deslocamento de ar que dá uma sensação de frio ou mais frio do que as outras 2 cachoeiras.

Cachoeira Garganta do diabo

    Dependendo do período do ano pode existir uma maior ou menor vazão de água , como fazia algum tempo que não chovia , a quantidade de água estava menor porém a beleza sem dúvidas era singular. Fui caminhando devagar, me apoiando com as mãos em uma das paredes de rocha até chegar exatamente no local de queda da água , a energia que senti ali era intensa e com a força da água caindo sobre a rocha , em alguns locais se formava uma espécie de névoa das gotículas de água o que proporcionava uma certa dificuldade para abrir os olhos.

    Fiquei um tempinho ali recebendo toda aquela energia e quando saí , mais uma vez tive uma sensação de leveza , paz e amplitude , principalmente no chacra cardíaco (coração) , sensação similar a que tive dentro da pirâmide porém com mais intensidade. Capturei algumas fotos e fiquei sentado em uma pedra imensa contemplando toda aquela beleza que associada a minha sensação de leveza e plenitude me fazia sentir completamente integrado ao criador. Por volta das 15:30 horas com fome e apertado para usar o banheiro (talvez por conta do frio) decidi subir e retornar à entrada que era o local com estrutura para a minha espera (cadeiras e redes a disposição) e obviamente banheiros. Até chegar lá existe uma grande escadaria e rampa um pouco íngreme que devido ao meu desgaste físico tive de parar 2 vezes para recuperar o fôlego e conseguir transpor esses obstáculos antes de sentir-me aliviado por poder usar o banheiro.

Caminho de retorno para a entrada do complexo de cachoeiras

    Fiz o contato com o motorista e em menos de 30 minutos , já estávamos no centro da cidade nos despedindo e deixando em aberto a possibilidade de um outro translado a outro ponto turístico. No apartamento , após um tardio e farto almoço o cansaço de todo o desgaste físico do dia se fez presente e após fazer uma seleção e descarte de fotos , fui dormir sem sequer jantar. Amanhã ficou combinado com a proprietária do apartamento que esta enviaria uma pessoa para trocar a roupa de cama e banho bem como fazer uma limpeza no local então eu pretendo me ausentar durante a manhã ( não faço ideia de qual será meu destino) , com o intuito de deixar a pessoa que vai trabalhar lá o mais à vontade possível para executar o trabalho .

Playlist do capítulo 9:

Nando Reis: ○ Álbum: Voz e violão vol.1

Daniel Schlappi/Marc Copland: ○ Álbum: Alice’s wonderland



Fast waters  -  Acrílico  - 2024

Gustavo H.F. de Sousa - Projeto 15 dias (2023-2024) 



Água doce


        Águas correntes, elos límpidos, fluidos divinos a ungir corpo e alma 

    Águas contentes, cintilante fluxo a nutrir todos os tons de verde e arrefecer cristais 

    Águas que brotam de nascedouro eterno, mina escura vertendo ouro coloidal 

    Águas geladas em queda abrupta, mimetizando sol e ar,vapor regenerador 

   Águas apressadas, libertas,aparam arestas e proporcionam envolucros acolhedores 

   Águas-força, energia motriz canalizada de um passar sem pensar (em ser mar)

    Águas centrais, eis-me aqui em consagração necessária, oferecendo altos e baixos tons de harmonias elementais


Gustavo H.F. de Sousa - Projeto 15 dias (2023-2024) 




    




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