Projeto 15 dias - São Thomé das Letras - Parte 4 - Versão em português

 Capítulo 3 – No ponto

   Depois das incríveis experiências de ontem , hoje minhas pretensões em ordem de prioridade são: a gruta de São Thomé (no centro da cidade) e retornar à pedra da bruxa pela manhã , à noite sinto que tenho um compromisso de retorno ao cruzeiro. Considerando que geralmente acordo cedo e escrevo após o café da manhã , hoje (8/8/23) às 5 da manhã , eu já estava preparando meu café da manhã e organizando as coisas para escrever , por volta das 10 horas eu já estava saindo para ir até a gruta , que realmente fica muito próximo.

Entrada para a gruta de São Thomé

   Ao chegar , fiz fotos externas da entrada , fiz fotos da placa informativa com dados históricos do local e entrei , vi duas câmaras: uma menor a esquerda (com o teto muito baixo talvez utilizada para meditação ou rituais) e a câmara principal com uma espécie de altar construído em cimento (dizem que com o intuito de fechar o prolongamento para um nível inferior da gruta). Neste altar vi flores de plástico , velas acesas , uma estátua pequena representando Jesus Cristo , pedras empilhadas , uma estátua representando São Thomé e pendurado a esta estátua tinha um colar verde e branco (provavelmente um “guia” de religião afrodescendente) , existia no ar um aroma de incenso ou ervas queimadas.

Placa com dados históricos a respeito da gruta

Foto interna da gruta: este é o “altar” referido

Ao me aproximar do “altar”, senti uma energia forte de leveza e expansão novamente mais intensa na altura do chacra cardíaco (coração) , definitivamente uma coisa boa e de repente surge entrando pelo buraco de saída da gruta e vindo ao meu encontro próximo ao “altar “ o cachorro (pastor alemão) que esteve comigo ontem no cruzeiro!!!

   Eu tenho certeza que não foi uma mera coincidência , ele chegou e deitou na minha frente no meio da gruta próximo ao “altar “ , dessa vez eu me agachei e passei todo o meu carinho e gratidão àquele amado “guardião “ sendo retribuído com lambidas amistosas. Fotografei o interior da gruta (sem usar o flash como manda a regra) e quando saí da gruta , meu amigo canino veio junto , mais uma vez trocamos carinhos fora da gruta e passei a chamá-lo de Hugo. Quando iniciei o registro fotográfico de uma placa com informações e representação de inscrições rupestres presentes no interior da gruta e que com o passar dos anos foram danificadas pelo tempo , vandalismo ou ambos , vi que o Hugo se deitou exatamente na entrada da gruta , parecia realmente estar posando para um registro e eu sem demora o fiz.

“Hugo” posando para a foto na saída da gruta

Placa informativa com as inscrições rupestres , hoje danificadas

Vendo toda aquela minha movimentação de registros fotográficos , encostou ao meu lado um senhor que se identificou como Mário ● , disse ser morador de São Thomé e professor de inglês em uma escola ou curso (não entendi direito e não vi necessidade de perguntar) iniciou-se uma conversa que não foi agradável sob a ótica de convergências e afinidades mas encarei com benevolência como um treino de exposição ao contraditório. Apenas para o/a leitor(a) ter uma ideia do ocorrido , exponho que ele falava com grande entusiasmo da modernidade dos tempos e da invenção da lâmpada elétrica por Thomas Edison enquanto eu o apresentei um resumo das ideias e invenções do Nikola Tesla (histórico rival do Thomas Edison) e deixei para ele (deixo aqui para o/a leitor/a) a pergunta: existiria uso e viabilidade de se desenvolver uma lâmpada elétrica sem a corrente alternada , criada e desenvolvida por Tesla? Em termos menos formais: como ter uma lâmpada sem antes existir uma rede elétrica que pudesse ser expandida? Expus de forma despretensiosa os conceitos desenvolvidos por Tesla a décadas e que são responsáveis até hoje por aproximadamente 70/80% da tecnologia que usamos. Comentei a respeito das tecnologias suprimidas por interesses comerciais como a energia livre ou ponto zero , uma tecnologia com impacto gigante em escala global , imagine não existir mais escassez de água pois dessalinizadores poderiam funcionar 24 horas por dia inclusive mandando água para onde falta por meio de bombas elétricas , imagine não existir mais enchentes pois bombas hidraulicas poderiam bombear água de onde existe excesso para onde existe escassez , imagine não ter mais fome no mundo pois lâmpadas especiais poderiam funcionar 24 horas por dia fazendo possível o cultivo até no subsolo. Estas são algumas aplicabilidades da tecnologia de energia livre ou ponto zero que existe a muitos anos é utilizada em projetos militares secretos e em um futuro próximo vai ser realidade tangível a todos. E assim seguiu a conversa , com dicotomias ideológicas nítidas mas com tolerância e respeito (como deveria ser a relação de opostos) , lembro que nos despedimos e quando olhei para o relógio , já era 11:35 horas e pairou uma dúvida a respeito de seguir para a pedra da bruxa como planejado ou voltar ao apartamento e preparar o almoço? Decidi manter o plano inicial mesmo sabendo que era um horário desfavorável para me expor ao sol.

   Peguei o trajeto que imaginei ser um atalho para evitar o desgaste físico de subir a escadaria e seguindo por esse caminho já bem perto da pedra da bruxa , visualizei um caminho acessório em meio a vegetação que subitamente me deu vontade de seguir e assim sendo com pouco tempo de caminhada lá estava , a minha frente , outro conhecido ponto turístico de São Thomé: “o mirante “ , também chamado de casa dos ventos , decidi na hora que seria meu novo destino , o mirante, trata-se (como a pirâmide) de uma casa que teve a construção iniciada e em seguida foi embargada provavelmente por estar em área de preservação e como não foi demolida passou a ser ponto de visitação por pessoas , se tornando um ponto turístico. Para a minha surpresa o acesso foi mais fácil do que o da pedra da bruxa , a vista incrível e a presença de um teto protegendo da incidência direta do sol foi muito apropriado para aquele horário.

“O mirante" , famoso ponto turístico de São Thomé

   No mirante também é possível uma visualização em 360° com todos os benefícios de estar em uma grande altitude , me pareceu ser um pouco mais alto que o cruzeiro , e com a vantagem de ter um teto protegendo de sol e chuva. Explorei e fiz fotos do lugar porém não passei muito tempo devido ao horário.

Vista privilegiada em 360° do mirante

   Chegando ao apartamento me dediquei ao básico: comer , descansar e selecionar/excluir fotos. Com o entardecer o tempo parecia mudar , o céu azul exuberante deu lugar a muitas nuvens e ventos fortes. Previ dificuldades para cumprir meu compromisso de estar no cruzeiro a noite mas , de novo , não cogitei desfazer meus planos , coloquei tudo que dispunha para meu conforto térmico: gorro , camisa de manga longa em malha , jaqueta , luvas térmicas e já sem iluminação natural , às 18 horas estava acionando o modo “lanterna “ em meu celular para subir na rocha. Para minha surpresa , não vi ninguém lá em cima , no topo do cruzeiro e na subida tive a sensação de dificuldade extra devido aos fortes ventos. Procurei o mesmo lugar plano do dia anterior e ao sentar , mesmo estando um pouco afastado do penhasco , notei que do ponto de vista de impacto dos ventos , não fazia diferença. O vento forte e contínuo batia com força nos arbustos e fazia um som peculiar que ao fechar os olhos dava para imaginar ondas vigorosamente quebrando na beira da praia.

   Iniciei minha estadia ali aguentando firme porém com a nebulosidade presente , a visibilidade estava péssima. Apesar de ter as orelhas cobertas pelo gorro e a jaqueta protegendo o tórax e abdômen , minhas extremidades sofriam com o frio intensificado pela força dos ventos. As mãos , apesar das luvas , que eram finas e de material sintético não ofereciam proteção adequada mas o local mais crítico era sem dúvidas o nariz , que parecia estar perto de congelar. Me arrependi muito por não ter adquirido um cachecol porém naquele momento , lamentar não resolvia meu problema , resolvi colocar as duas mãos juntas em frente ao nariz bloqueando o vento e fazendo com que o calor da minha respiração aumentasse a temperatura inclusive das mãos. E assim resisti até as 20:10 horas sem ver nada atípico , com a intensa nebulosidade as estrelas se mostravam de forma muito rápida por entre as nuvens que passavam. Voltei para o apartamento , jantei e percebi que mesmo dentro do apartamento estava frio e foi necessário usar uma jaqueta , o vento era atipicamente intenso e pelas frestas da janela dava para escutar um ruído. Amanhã , se o tempo permitir a única coisa que gostaria de fazer será subir no topo da pirâmide.

☆ Observação importante: Os fatos mencionados neste capítulo realmente ocorreram porém o nome real da pessoa envolvida foi substituído por um nome fictício (Mário ●) para preservar o anonimato e possíveis constrangimentos .


Playlist do capítulo 3


 Lori Carson:   ○  Álbum: Stolen Beauty

                             ○   Álbum: Where it all      goes

                              ○ Álbum:  The finest thing


Marisa Monte:  ○Álbum:  Verde , anil , amarelo , cor de rosa e carvão




Comitiva (entourage) - Acrylic  - 2023




No ponto


   O ponto de inflexão chegou e com ele os silêncios que precedem uma nova estação 

   Os caminhos , de tão tortos , voltaram à partida e o vóo se faz necessário 

   Antes de abrir as asas , uma benção precisa ser colhida como credencial

   Gruta , útero sagrado onde a verdadeira mãe nutre sem distinção 

   Peço a benção dourada , teu toque regenerador e teu sopro terno a sustentar minhas asas

   Levarei comigo teu sussurro rítmico arrebatador e a sabedoria das letras que se mostram apenas no escuro 

   Me jogo do precipício em uma noite escura onde até as estrelas fugiram do frio

   Em minutos , um sopro , um lume , uma linha reta (sinalizada) , acima de toda nebulosidade

   A lua me espera para jantar


Gustavo H.F. de Sousa - Projeto 15 dias (2023) 

  




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