Projeto 15 dias - São Thomé das Letras - Parte 3 - Versão em português

 Capítulo 2 – Senhoras e senhores , eu ví

   Iniciei meu dia (como no primeiro) com aquele café da manhã reforçado , com frutas ,torradas , pães e após um banho , coloquei um agasalho pois no início da manhã fazia 16°C logicamente que com o vento a sensação térmica ficava bem abaixo disso , contrariando meus planos de ontem , decidi ir rumo a pedra da bruxa. Abri o aplicativo de localização e vi a posição geográfica da pedra da bruxa em relação ao meu ponto de partida , sua relação de distância com o cruzeiro (ponto que eu me sentia seguro em chegar) e guardei o celular iniciando minha caminhada pelas estreitas ruas de pedra , confiando em Instinto e senso de localização. No início da caminhada não existia nenhuma sinalização ou placa indicativa de direção segui rumo oeste de acordo com o que visualizei no mapa e sabendo que em algum momento eu teria que subir para um nível superior pois a minha posição inicial ficava em uma espécie de vale (ao lado da praça central).

   Andei até visualizar a minha direita uma escadaria íngreme que transladava a um plano superior , decidi subir e ao iniciar a subida constatei que existiam dois lances de escadas separados por um pequeno espaço central com plantas e bancos (uma espécie de mini praça).


Escadaria íngreme que encontrei no trajeto rumo a pedra da bruxa

 

  Os degraus desta escadaria me chamaram atenção porque eram em madeira , curtos e com entalhes representando um olho aberto , também presente nos bancos do espaço central. Esta representação artística teve grande impacto pois o olho aberto é uma referência recorrente em meus trabalhos de pintura.


Detalhe dos degraus com entalhes artísticos representando um olho aberto

  

 Completei a subida e neste plano superior existia uma sinalização indicando a direção do caminho rumo a pedra da bruxa. Segui o caminho até me deparar com uma bifurcação onde também existia sinalização indicando o caminho a ser seguido , chegando na imensa rocha , em sua base pode ser observado uma placa informativa com dados associados ao ponto turístico. Acho importante aqui relatar que o caminho desde o final da escadaria até a chegada é em aclive ou seja subindo uma ladeira que não tem grande inclinação , sendo de fácil transposição. Observei que na própria rocha existe uma espécie de “degraus “(não sei se por desgaste natural ou se foi esculpido) que permitem a escalada mesmo para quem não tem nenhuma experiência (meu caso). Eu estava muito cansado com a escadaria e o acesso em aclive então por questão de segurança , achei prudente passar alguns minutos na base da rocha , apenas respirando e me recuperando do desgaste.

A pedra da bruxa

  

 Restabelecido , parti para a subida/escalada que mesmo com os “degraus “ tinha uma inclinação razoável e oferecia risco de queda , além do óbvio desgaste físico. Subi de forma lenta e sempre usando também as mãos , só passava para um nível mais alto quando tinha pelo menos um pé e as mãos apoiadas e assim , lentamente mas com segurança eu cheguei ao topo. Lá impressionantemente o vento não estava forte , dava para ver todo o relevo com as montanhas circunvizinhas , o vale que fica no centro da cidade bem como cidades próximas. Sentei na rocha , contemplei a paisagem , fotografei e estando tão alto pensei no paradoxo de estar no cume de uma montanha , tão longe da costa e este lugar a milhões de anos atrás , foi o fundo do oceano (de acordo com estudos e fósseis encontrados). Nada mais transformador do que o tempo , foi o pensamento que me ocorreu junto com a vontade de deitar na rocha. Deitei ao sol e também me ocorreu o pensamento de que lá dizem ser um local repleto de portais multidimensionais (de acordo com metafísicos , xamãs e espiritualistas). Particularmente eu não senti ou visualizei nada atípico porém estar a quase 1,5km acima do nível do mar , com a capacidade de observação em 360° , dava um prazer , talvez até potencializado por ter “escalado “ minha primeira montanha sozinho. .

Topo da pedra da bruxa

 

  Deitado no cume , ao sol , acabei ficando mais tempo do que imaginava então meu outro destino , “a gruta de São Thomé “ (no centro da cidade) ficaria para outro dia pois eu já tinha planos para a tarde e noite. Na descida da pedra da bruxa , especificamente na sua base , visualizei pedras empilhadas em forma de pirâmide e buracos permeados por linhas de erosão , tudo tão atípico e não convencional que me dispus a fotografar. Após o almoço , já no apartamento , lá estava eu selecionando as melhores fotos capturadas quando percebi que duas fotos realizadas na base da pedra da bruxa tinham uma espécie de halo de luz. Imediatamente a minha mente (acho que como a de qualquer pessoa) tentou encontrar uma explicação lógica para o fato associando a um reflexo do sol pois como relatei , passei bastante tempo lá e no momento da saída estava próximo às 12 horas e o sol quase em ângulo de 90° no céu. Logo depois constatei que existia mais fotos do mesmo local e enquadramento que não apareceu nada atípico. Explicando para o leitor(a) quando eu decido capturar uma foto , normalmente faço uma sequência de 5 a 6 fotos seguidas para só depois descartar as “piores” e ficar com 1 ou 2 , então havia outras fotos do mesmo lugar e enquadramento que “a luz” não aparecia , como também não apareceu na tela no momento que capturei as imagens e só percebi horas depois no momento da seleção , realmente não consigo encaixar uma explicação lógica para o fato.

Buraco e marcas de erosão na base da pedra da bruxa



 

Pedras empilhadas na base da pedra da bruxa


Pedras empilhadas em forma de pirâmide com halo de luz do centro para a esquerda (base da pedra da bruxa)

 

  A tarde , me dediquei aos serviços domésticos como almoço , limpar o quarto , lavar roupas além da citada seleção de fotos e escrever. No fim da tarde meu destino foi o cruzeiro , à medida que avançava pelas ruas rumo ao meu destino , pude ver grupos de pessoas passando em sentido contrário (provavelmente foram assistir o pôr do sol no cruzeiro ou pirâmide) , talvez retornando para as suas casas ou pousadas. Subi a rocha em direção ao cruzeiro ainda com luminosidade suficiente para não precisar utilizar o celular como lanterna.       Chegando ao topo , consegui visualizar 3 pessoas presentes , um indivíduo no exato local da estrutura em madeira em forma de cruz (que dá o nome ao ponto turístico) e duas pessoas mais a esquerda com um cachorro (onde eu pretendia ficar) , decidi me posicionar um pouco mais a esquerda e recuado em relação ao grupo com 2 pessoas em um local plano e que me dava relativo conforto , situado a uns 10 metros do penhasco. Cheguei , sentei , procurei acalmar a respiração para iniciar uma meditação. Comecei pedindo proteção física e espiritual aos meus guias pois já era noite , por ali tudo escuro e o indivíduo que estava no exato local da cruz se preparava para sair. Continuei minha meditação e entrega à providência divina (eu estava de olhos fechados) quando passados aproximadamente 10 minutos escutei uma respiração ofegante próximo a minha orelha esquerda e antes que pudesse abrir os olhos senti algo úmido tocar na orelha , abri os olhos quase em pânico e vi (mesmo no escuro) um cachorro olhando para mim com o rabo abanando. Ainda influenciado pela descarga de adrenalina me limitei a dizer “você quer me matar de susto...?” e não arrisquei nenhum contato físico. O cachorro tinha um porte médio , parecia ser um pastor alemão e provavelmente o que senti úmido na minha orelha foi o toque do nariz dele ou uma lambida. O cachorro se posicionou a minha frente e deitou na pedra.

   Tentei voltar à meditação mas com toda aquela tensão envolvida a cada barulho escutado eu abria os olhos e percebia que o cachorro também estava em alerta pois ele levantava o pescoço e olhava o entorno. Quando percebi está situação recorrente , não tive mais dúvidas de que estava em minha frente a concessão divina em resposta ao meu pedido por proteção física. O estimado(a) leitor(a) que se sinta livre para a conclusão que quiser a respeito do fato mas na minha forma de entendimento o animal em alerta ali tinha o propósito de garantir minha proteção física e está conclusão ficou ainda mais solidificada quando pouco tempo depois visualizei uma espécie de “pilar” de luz que apareceu rápido a minha direita como um flash fotográfico e em poucos segundos foi se esvaindo em nitidez até desaparecer visualmente. Não havia outro entendimento para mim senão a chegada da proteção espiritual por mim solicitada até porque recebi telepaticamente um nome da presença luminosa: Nicácio e que estaria comigo durante o tempo que estivesse ali , não entendi ao certo se este “tempo que eu estivesse ali “ se referia ao cruzeiro ou a São Thomé das Letras. Depois disso tudo eu realmente não tinha mais como meditar e com o céu sem nuvens e cheio de estrelas me dediquei a “escanear “ de um lado a outro em busca de algo atípico.

   Durante o tempo que estive ali visualizei o que parecia ser 4 meteoros ou lixo espacial queimando na queda e 2 situações que não tem explicação dentro de um contexto convencional (avião , helicóptero ,drone , satélite). A primeira situação (menos impactante) foi o aparecimento repentino de uma luz com o tamanho de uma estrela que piscava (em intervalos de 2 segundos) , passou a ter uma trajetória linear e de repente sumiu ou parou de emitir luz. A segunda situação foi mais impactante pois eu vi um objeto com luz contínua também do tamanho aparente de uma estrela em trajetória linear e oposta a situação anteriormente relatada (desta vez vinha da esquerda para a direita) , acompanhando a sua direção vi que o objeto se dirigia em rota linear ao que parecia ser um portal interdimensional. No céu , um círculo com 10 pontos de luz similares a estrelas e dentro deste “círculo" existia uma figura romboide , uma espécie de losango achatado com cor violeta. O ponto luminoso se dirigiu a esse “portal “ com velocidade constante até desaparecer dentro do “losango violeta” que por sua vez após a entrada do objeto , também desapareceu , permanecendo apenas a formação em círculo de pontos luminosos do tamanho de pequenas estrelas. Por volta das 21:30 horas decidi retornar ao apartamento pois o frio se intensificava e com ele também chegava uma fome brutal. Complemento agora minha narrativa esclarecendo que aproximadamente na metade do tempo em que estive no topo da rocha (cruzeiro) o cachorro que estava deitado na minha frente , desceu , exatamente no mesmo momento em que o grupo presente (com 2 pessoas e um cachorro) resolveu descer. No meu caminho de volta ao apartamento , vi o cachorro que estava comigo deitado e de olhos fechados (dormindo?) na entrada de um pub próximo ao acesso para o cruzeiro , realmente era um pastor alemão. Chegando ao apartamento tentei aplacar a fome e refletir sobre tudo que aconteceu ao longo do dia , antes de dormir.


☆ Observação importante: Afiirmo aqui ao leitor(a) que durante minha estadia em São Thomé , eu não ingeri nenhuma bebida alcoólica , não utilizei nenhuma substância legal ou ilegal que pudesse alterar minha percepção e não estava utilizando nenhuma medicação.


Playlist do capítulo 2:


        Nando Reis: ○ Álbum: Voz e violão vol 1

     Caetano Veloso: ○ Álbum: Circuladô vivo vol 1 e 2

         Armandinho: ○ Álbum: Acústico



Convite - Acrílico  - (2023)




Passeio na praça 


   Seleto espaço, imaginado e erguido para reter e transmitir cores compartimentadas e por tom encaixadas

   Pedras dispostas em tabuleiro, duplo esforço para sobrepujar o oposto 

   Velas acesas sem permissão,  colares expõem vicissitudes e as palavras mucham como flores em calor de deserto 

   Monte sagrado usurpado , passo a passo obliterado , desviando sua divina função 

   Um raio e um alvo conduzem desfechos , desejos ouvidos em preces libertárias 

   Concessões e  condições de transmissão revisadas sob chuva ou sol e o movimento elétrico nos telhados à noite preenchem as lacunas necessárias 

   Queijos derretem por pães pagãos,  sonhos embebidos em goiabada cascão,  olhos sinalizam o caminho

   Aviões de papel e seus rastros injetados,  planejamento limitado,  soluções solúveis e tortas (de chocolate meio amargo)

  Tecnologia celular em limpeza de quartos e quintas , com cortes de ligações clandestinas

   Vento intenso dissolve todo que turva a água,  a pele

   A vida agradece , passa e eventualmente senta nos bancos de uma praça que pouco a pouco  se eleva


Gustavo H.F. de Sousa - Projeto 15 dias (2023) 

  




   

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