Projeto 15 dias - São Thomé das Letras - Parte 2 - Versão em português

 Capítulo 1 – Instinto básico

    Em meu primeiro dia de fato em São Thomé das Letras ,após uma noite mal dormida e o
desgaste ainda presente , minhas preocupações iniciais eram em ordem de prioridade: provisões básicas (água , comida , material de limpeza e higiene) e minha obrigação de trabalho (escrever).Recorri ao aplicativo de localização e vi que apenas uma praça localizada ao lado direito (a praça central) me separava de um supermercado e este assim que abriu as portas , me teve como cliente , comprando o que era necessário. Mesmo sendo uma pequena distância , era impossível levar tudo que eu precisava de uma única vez , retornei e apenas no momento do pagamento (nessa segunda vez comprando) visualizei a informação de que eles fazem a entrega sem custos adicionais a partir de um determinado valor comprado. 
   Não cheguei sequer a lamentar não ter visualizado esta informação antes pois a entrega das mercadorias compradas
não acontece de forma imediata e minha sede associada à fome pediam para eu não esperar.
Neste primeiro dia , após preparado e degustado o café da manhã , preparado o almoço , guardados e organizados os mantimentos , me dispus a escrever. Pensei e pretendo à tarde explorar os locais próximos ao apartamento , locais sem grande dificuldade de acesso porque o cansaço físico e não físico ainda persiste. Por hora os passeios que desejo fazer estão descartados pois sendo hoje Domingo , a cidade está repleta de visitantes e eu imagino que os pontos turísticos devem estar sobrecarregados de pessoas além obviamente dos valores cobrados estarem inflacionados.
   Após o almoço e novo descanso , eu me sentia revigorado e com uma súbita vontade de ir ao cruzeiro (famoso ponto turístico local) , aqui eu faço uma breve interrupção do meu relato para dar uma valiosa dica: um calçado apropriado para piso irregular faz uma grande diferença para as idas e vindas em São Thomé. Minha experiência pessoal diz que o ideal é um calçado para trilha e este o mais “duro” possível para dar a segurança necessária na região do tornozelo , no meu entender é um item básico para quem quer desfrutar de tudo que a cidade tem para oferecer , andando a pé. 
   Voltando ao cruzeiro , este ponto turístico tem esse nome , provavelmente devido a escultura de madeira em forma de cruz situada no cume da rocha imensa que também abriga a pirâmide ou casa da pirâmide (outro famoso ponto turístico de São Thomé). Ao chegar na base da rocha iniciei a subida e tive de parar duas vezes para recuperar o fôlego e antes de chegar ao topo ví a minha direita uma estrada estreita de areia margeada por pedras harmoniosamente empilhadas e com estruturas feitas por pedras empilhadas ao longo do percurso , foi um convite que não resisti , segui a estrada sem saber ao certo aonde iria chegar e após breve caminhada , eu estava de frente para um outro famoso ponto turístico de São Thomé das Letras: a “pirâmide”! Se trata de uma casa cujo teto tem a forma de uma pirâmide (dizem que foi construída com especial posicionamento , alinhada a constelação de escorpião) a casa não chegou a ter sua construção finalizada provavelmente por estar em área de preservação e como não foi demolida passou a ser ponto de encontro e visitação devido ao forte apelo visual do lugar. Estava repleta de pessoas , principalmente no topo , provavelmente esperando pelo pôr do sol , subir até o topo com todas aquelas pessoas ali estava fora de cogitação então me contentei em fazer fotos externas e depois decidi entrar. 


A pirâmide , famoso ponto turístico de São Thomé
 

   Entrei e de imediato senti uma forte energia , não sei como objetivar de forma precisa a
sensação mas era como se meu ser fosse “invadido “ por uma “leveza” com sentimento de expansão , tendo esta sensação com maior intensidade na altura do chacra cardíaco
(anatomicamente falando no mesmo local onde fica o coração). Dentro da pirâmide , pouquíssimas pessoas (no máximo 5) e eu me dediquei a fotografar com enquadramentos o
menos óbvios possíveis. 



 
Interior da "câmara principal" da pirâmide de São Thomé 



 Fiquei pouco tempo porque me senti desconfortável com a grande quantidade de pessoas do lado de fora. Além dos visitantes/turistas , o barulho também vinha
dos vendedores ambulantes ali presentes. Retornei à estrada de terra que me trouxe , dessa vez em sentido oposto , de encontro ao meu ponto inicialmente planejado , o cruzeiro. No caminho , fiz uma parada para registrar as estruturas de pedra empilhadas , em sua maioria com forma piramidal 


Estruturas de pedra empilhadas ao longo da estrada 

   Cheguei ao cruzeiro , fiz algumas fotos e notei que estava (como na pirâmide) cheio de pessoas
, porém por se tratar de uma área mais ampla , não existia aquela aglomeração presente na
pirâmide. Desci um pouco com relação ao marco em forma de cruz e encontrei um local
convidativo à contemplação (uma parte da rocha com sombra). Lá , com algumas pessoas no entorno eu sentei para descansar , contemplar e tentar cognizar o que senti na pirâmide. Fiz fotos , contemplei cada ângulo daquela montanha de quartzito com aproximadamente 1.400 metros acima do nível do mar.


Estrutura em forma de cruz que define o nome do ponto turístico: “o
cruzeiro”

 Uma situação digna de menção aconteceu assim que eu sentei para descansar , apesar de
estar praticamente no topo da montanha e a pouco mais de 10 metros de um desfiladeiro , não havia vento nenhum , o céu estava azul e praticamente sem nuvens , parecia que tudo a minha volta estava “pausado “. Agora , escrevendo , lembro de ter visto um documentário sobre o Tibete onde momentos assim onde até os pássaros calam , dizem ser o momento onde o “senhor do mundo “ está em meditação e assim sendo se suspende atividades , fazem orações e recitam mantras. Naquele momento exato , eu estava completamente envolto a tudo que visualizava e sentia , a sensação de estar integrado à montanha e adjacências com aquela vista magnífica
simplesmente me tomava de um jeito que não existia espaço para nenhum pensamento ou
lembrança , a mágica do presente com um belo horizonte me bastava. Esta situação durou aproximadamente 20 minutos quando aos poucos começou a soprar de forma intermitente um vento gelado. 


“Meu lugar” de contemplação no cruzeiro
 

   Ao meu lado direito e um pouco adiante , exatamente no limite entre a rocha e o penhasco sentou-se um indivíduo que iniciou uma meditação , não sei se era um xamã ou praticante de xamanismo mas trajava uma camiseta com a imagem de um índio e uma águia e aí com menos de 5 minutos , não sei se por questões relativas a manipulação energética ou coincidência , começou a sobrevoar logo acima de onde estávamos , um falcão ou gavião , passaram uns 20 minutos até que atentei que valeria a pena o registro e assim que peguei o celular , o pássaro se distanciou até desaparecer na vegetação localizada abaixo da montanha (penhasco) , mais ou menos nesse momento , o sol se despedia no horizonte com aplausos do público presente (eu também aplaudi).
   Achei uma boa ideia esperar o anoitecer para aproveitar a visibilidade esplêndida de um céu
praticamente sem nuvens porém com o avançar das horas a temperatura caía e como eu não
tinha levado agasalho , sucumbi a fome e frio por volta das 19 horas. Durante o tempo que estive ali sentado , tentei meditar umas 2 ou 3 vezes sem sucesso , não sei se devido ao desconforto térmico , excitação perante tudo que aconteceu naquela tarde , questões energéticas que simplesmente não tinham explicação racional ou todas essas situações juntas , o fato é que naquele momento eu não conseguia encontrar a quietude necessária.
Aqui mais uma vez eu interrompo o relato para dar dicas importantes ao estimado(a) leitor(a)
que deseja se aventurar pelos altiplanos de São Thomé (ou qualquer outro lugar) : Se puder ,
evite consumir bebida alcoólica ou muita água pois com o frio , virá a vontade de ir ao banheiro e nos pontos turísticos de São Thomé não tem banheiro público ou seja se bater a “vontade“, terá que “segurar“ até chegar no centro da cidade , seu local de estadia ou algum bar ou restaurante (mais próximo). Obviamente que se o aperto for grande e não tiver como “segurar “ será bem constrangedor aliviar as necessidades por ali mesmo , para quem alivia o sufoco , para quem presencia a cena e para quem vai depois passar pelo local e ser impactado pelo odor desagradável. Uma outra dica valiosa é: a partir do fim de tarde nos locais mais elevados de São Thomé , é importante um agasalho , mas à noite , além do agasalho , luvas , gorro e nos dias de vento forte eu senti muito a falta de um cachecol para proteger o nariz (o meu teve a pele ressecada e cheia de rachaduras , além da sensação congelante) , é imprescindível também um celular carregado (para funcionar como lanterna) ou uma lanterna para o trânsito na vegetação e pedras com segurança.
   Voltando ao relato , na minha subida e descida do cruzeiro , fui “escoltado “ por uns cachorros , não sei se tinham tutor ou se eram alguns dos muitos existentes nas ruas de São Thomé. Há quem diga que nem todos cachorros são “cachorros “ , seres que dominam a plasticidade da matéria se fazem momentaneamente “cachorros “, para passarem despercebidos e a
diferenciação se dá pelo brilho atípico dos olhos. Se eram cachorros ou “cachorros “ eu não posso atestar mas digo sem medo de errar que tive a sensação de estar acompanhado por quem me garantiu a segurança. Amanhã meus planos serão: explorar os arredores do apartamento , subir ao topo da pirâmide e ir ao cruzeiro com traje apropriado para passar mais tempo.


Playlist do capítulo 1:


 Jakob Bro: ○ Álbum: Time

 John Mayer: ○ Álbum: Room for squares

 João Gilberto: ○ Álbum: Live In Tokyo

 Jorge Bem Jor: ○ Álbum: Tábua de esmeraldas






When i come around (Ao longo do meu trajeto) - Acrílico (2023)




Declaração de amor à terra dourada



  Minas , peço a tua licença para desabotar tuas pesadas vestes
 Que caia ao chão , lentamente como meu carinho , os panos maculados 
 Sem arrodeios te deixo expor os vales e montanhas tão cobiçados 
 Quero te ver nua e crua caminhando delicadamente em meu entorno 
   Hoje teus porta-vozes não são necessários  , de longe os peço apenas um sinal de aprovação 
 Que pisquem os olhos ou simplesmente os fechem em absoluto e motivacional silêncio 
 Assim escutarei todos os tambores guiando minhas salgadas entranhas às tuas adocicadas terras
  Só por esse instante não precisas reluzir tua fartura , me deixa doar todo o meu lume (reflete apenas o que convier)
  Em teu cume sagrado derramarei lágrimas , suores e cantarei em gratidão 
 Minhas vestes cairão sobre as tuas e completamente desprovido de envolucros nos locupletaremos em versos e prosa 
  Finalmente chegaremos (juntos) ao derradeiro lugar onde duas constelações se unirão para aplaudir a finalização de um ciclo 

Gustavo H.F. de Sousa  -  Projeto 15 dias (2023) 
  








 





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